Só o tempo...
Um dia avisaram os seus habitantes que ela ia ser inundada. Apavorado, o Amor, procurou que todos os restantes sentimentos se salvassem.
Todos correram até aos respectivos barcos para se irem proteger num monte bem alto. Só o Amor não se apressou: Queria ficar um pouco sozinho na sua ilha...
Quando já quase se afogava, começou a pedir ajuda aos barcos que por ele passavam.
Veio a Riqueza e o Amor implorou:
- Riqueza, podes levar-me?
- Não posso... O meu barco está cheio de prata e ouro, não há espaço para ti!
Passou a Vaidade e ele pediu:
- Vaidade, podes levar-me?
- Não posso, ias sujar o meu barco novo.
Daí a pouco avistou a Tristeza:
- Tristeza, podes levar-me?
- Ai, Amor, estou tão triste que prefiro ir sozinha...
Já desesperado, vê aproximar-se a Alegria, mas esta estava tão alegre que nem o ouviu. E assim sucessivamente com a Pressa, que, de tão apressada, não podia parar; com o Egoísmo, que não queria partilhar o seu barco com ninguém e com o Medo, que estava receoso de se afundar se levasse muito peso...
Já pensando que ia ficar ali sozinho até toda a ilha desaparecer sob a água, o Amor começou a chorar.
Então passou um barquinho com um velhinho que disse:
- Sobe, Amor, eu posso levar-te.
O Amor limpou as lágrimas e sorriu. Estava tão feliz que até esqueceu de perguntar o nome a quem o acabara de salvar.
Mais tarde, já no topo do tal monte, onde se reuniam todos os sentimentos, ele perguntou à Sabedoria:
- Sabedoria, quem era o velhinho que me trouxe até aqui?
- O Tempo.
- E porque só o Tempo me trouxe?
- Porque só o Tempo é capaz de entender um grande Amor!