Sou cada vez mais um animal não político. Não me enquadro em nenhum partido e só a palavra "política" faz-me sentir um tédio tal que só me apetece insultar todo e qualquer político pelo simples prazer do insulto livre. Não gosto nem nunca gostei de partidos. Metem-me nojo. Todos. Não sei porquê mas sinto que fazer parte de um partido é perder um pouco a nossa liberdade de opinião em prol da coesão do partido. A imagem de um partido deve ser de coesão, os seus membros devem apoiar os líderes e demonstrá-lo inequivocamente. Então pronto, mesmo que não se concorde tem que se apoiar. Se és do PP tens que ser contra o aborto, se és do BE tens que ser a favor, etc... Os partidos têm ideais e quem se junta tem que os aceitar. À partida isto serve logo para me impedir de juntar a qualquer partido pois, por vezes, apoio decisões de partidos de "esquerda", por outras dos de "direita". Acho que há boas pessoas dos 2 lados, e que apesar de as ideologias serem opostas, não tem que haver propriamente uma que esteja certa.
Pah, se calhar sou eu que não percebo nada de política.
Mas há uma coisa que jamais deixarei que me tirem: a liberdade de chamar (ou pelo menos pensar) "filho da puta" a um 1º Ministro, seja ele de que partido for, se tomar uma decisão que ache injusta ou que prejudica as pessoas que se esforçam todos os dias para fazer deste país um país melhor.Chamem-me "inculto", chamem-me "merdas", chamem-me "irresponsável". Estou-me pura e simplesmente a defecar (só para não utilizar o termo cagar) para os políticos. Os partidos corrompem as pessoas, sobe-se no partido à custa de favores e de engolir sapos. Os que chegam ao topo devem tanta coisa a tanta gente que acabam por ficar totalmente condicionados na sua actuação. Um gajo vê os mais "pequenos" que são "somente" gestores de hospitais ou presidentes de câmara e já se apercebe de tanto jogo de bastidores e de "favores políticos". Quanto mais os "grandes" que são quem dá de comer a esses sanguessugas todos! Sabem que mais? "Era atá-los todos a um pinheiro e pegar-lhes fogo"!
Ou melhor, usá-los para apagar os incêndios que destroem as nossas florestas todos os Verões. Metiam os políticos nos tanques dos aviões e lançavam-nos para cima das chamas. Isso sim, era uma bela medida!Outra cena que me tem afligido é a ideia que se deixa passar da função pública.
Parece que somos todos uns criminosos. Vê-se o governo a gabar-se de reduzir o nº de funcionários públicos. A oposição pede ainda mais redução. Como se isso fosse bom!
Pois bem meus paneleiros, eu trabalho num hospital público. Sou mais xulado do que se estivesse num hospital privado. Não me pagam horas extraordinárias. Tenho um contrato precário que não me dá estabilidade nenhuma. Não subo na carreira, aliás, não tenho carreira sequer. Mesmo que quisesse não posso fugir aos impostos. No meu serviço fico responsável por cerca de 30 doentes (60 doentes para 2 enfermeiros...). Volta e meia falta material mas, pior que isso,
é frequente faltar medicação! Tenho que fazer coisas que não são da minha competência porque não há funcionários que cheguem mas os doentes têm que ser tratados à mesma.
Os meus superiores falam de nós como se nós ainda lhes devessemos o favor por ter emprego (de escravo quase). Os meus colegas dos privados têm melhores condições. Recebem as horas extraordinárias. Podem concorrer e entrar nos quadros dos hospitais privados (eu não posso concorrer para os quadros dos públicos). E ainda por cima não sofrem do "estigma de funcionário público".
Quando vejo esses "sotores" a tratar-nos como bandidos, como se o país estivesse na banca rota porque os funcionários públicos são maus, trabalham pouco e recebem muito, dá-me uma vontade enorme de um dia os apanhar num hospital.
E depois chegar ao pé deles com umas luvas sujas e usadas e dizer-lhes "Lembra-se de quando se queixavam de que usávamos muitas luvas e de que devíamos poupá-las mais? Pois bem, decidi seguir o seu conselho.". O problema é que esses bichas badalhocos quando estão doentes têm tudo do bom e do melhor. A culpa não é só deles. É de todos nós. De todos nós que continuamos a tapar os buracos. Daqueles que, quando alguém importante vai ao serviço, andam a pôr tudo bonitinho e limpinho só para Sua Excia ver. Daqueles que olham apenas para os números mas que são os primeiros a exigir punição quando um utente não é tratado com a qualidade que devia.
Já passei por serviços onde nos mandavam lavar as luvas para poupar. Serviços onde não havia fraldas e sempre que um doente se borrava todo tinhamos que lhe dar banho e trocar toda a roupa da cama (sendo o prejuízo bastante superior ao custo de uma fralda). Serviços onde se usa sabão das mãos para lavar doentes e depois se gasta milhares em pomadas devido aos problemas de pele que surgem nos utentes...
Serviços onde não há dinheiro para luvas mas há para comprar carros novos para os gestores.E a Educação? Uma vez mais a ideia que se faz passar é a de que os professores são todos uns incompetentes e malandros que não querem fazer nenhum. O truque é cada vez mais pôr a culpa em quem trabalha no terreno. Quem manda nunca tem culpa de nada. Aliás, devia era ainda castigar mais os que trabalham!
Só falta começar a mandar a polícia para as salas de aula para sempre que o professor se porte mal levar umas cacetadas. Antigamente havia respeito por quem ensinava. Agora não. Provoca-se cada vez mais um clima de pressão que obriga os professores a passarem os alunos a todo o custo. Reprovar alguém é quase como cometer um crime. Só falta o professor ter que ir a tribunal sempre que queira reprovar alguém. E a avaliação dos professores? Parece que já não falta muito para os alunos e encarregados de educação decidirem se o professor é bom ou não. Está-se mesmo a ver no que vai dar... Professores que dêm más notas são maus e merecem ser castigados! Quando vejo putos no 6º ano a saberem menos do que eu sabia na 1ª classe, está tudo dito...
Deixo uma sugestão para esses suínos acéfalos que mandam neste país de criminosos públicos:
Que tal, em vez de culpabilizar quem faz o que pode e só não faz mais porque não tem condições, criar as condições para que as pessoas trabalhem como deve ser?