segunda-feira, novembro 06, 2006

Siamese Dream

Já houve um tempo em que dava por mim parado a olhar para ti, a deliciar-me com o teu sorriso. Bebia a vida em ti, no brilhar dos teus olhos, que brilhavam tanto tanto... Fixava-me no teu sorriso de menina e sentia que era ali que queria ficar para sempre. Querer parar o tempo e pousar-me levemente no teu sorriso.

Já houve um tempo em que te via e sentia adormecer ao meu lado. Em que olhava o teu rosto a dormir, tão sereno, tão frágil e delicado. Em que me sentia tão feliz por poder disfrutar dessa visão que me transmitia tanta calma e tranquilidade. Em que te sentia tremer nas minhas mãos, variar a profundidade da respiração e entrares num sono mais profundo. E eu só pensava se um dia poderia sentir que te ía ter ali assim para sempre.

Já houve um tempo em que sentia uma fome enorme de partilhar contigo a minha vida. Como se não te visse há muito tempo e tivesse sempre tanto por contar. Em que as conversas pareciam não terminar pois eu ía sempre embora ainda com tanto por dizer. E vivia as tuas recordações como se fossem minhas, saboreava o que me contavas da tua infância e sentia tanta pena de não ter estado lá também.

Já houve um tempo em que o tempo voava. Em que o meu sorriso se encaixava no teu. Em que as nossas mãos dançavam. Em que a alegria da cumplicidade especial nos fazia brincar continuamente. Em que por mais que planeassemos as coisas, o tempo parecia ser sempre pouco. Intensamente pouco e bom. Em que tinhamos o nosso próprio código, onde eu conseguia saber o que ías dizer a seguir e tu o mesmo em relação a mim.

Já houve um tempo onde era fácil construir momentos especiais e únicos. Em que eu me sentia ultrapassar-me e fazer coisas que geralmente não faço. Em que me apetecia levar-te a sítios únicos e imaginava o dia em que seria livre de o fazer. E eu ansiava pelo dia em que poderia apresentar-te aos meus pais, aos meus animais, aos meus amigos. E mostrar-te os sítios onde cresci. E levar-te a lugares que me marcaram. E levar-te a lugares a que nunca fui.

Já houve um tempo em que o meu corpo te abraçava e ficava completamente em paz. Como se todos os problemas do mundo deixassem de existir. Em que os meus lábios se colavam ao teu corpo como ímans. Em que o teu cheiro se entranhava na minha alma e me fazia flutuar. Em que os nossos corpos, sedentos e famintos, se consumiam em paixão.

Já houve um tempo em que não havia nada que eu não fizesse por ti. Mesmo que o falar ou estar ali me magoasse imenso e me deixasse no fundo. Eu não me importava de me prejudicar pelo teu bem, pelo teu sorriso, por ti. Em que eu dava voltas e voltas à cabeça a pensar em formas de te aliviar o sofrimento.

Já houve um tempo em que me conheceste. Mesmo que por pouco tempo pois acabaste por destruir quem eu era e depois disso eu nunca mais consegui voltar a sê-lo. Já houve um tempo em que acreditava em ti, apesar de nunca teres acreditado em mim nem em nós. Em que eu te dava todo o espaço e tempo e te perguntava apenas que mais poderia eu fazer.

Já houve um tempo em que eu esperava ansiosamente cada momento para te ver. Em que o melhor momento do dia era quando conversava contigo. Em que o saber que estavas ali era suficiente para me fazer sorrir. Em que eras a única pessoa em quem notava, numa sala cheia de gente.

Depois de ti perdi o medo de morrer. Morrer é somente uma nova oportunidade de te encontrar noutra vida, noutra reencarnação. E sonhar que dessa vez nenhum dos dois estrague uma relação e uma cumplicidade que tanta gente passa a vida inteira a procurar. E sonhar que dessa vez me deixes mostrar que não estava errado. Talvez na próxima vida...


Todos os dias recupero um bocado do que sou. No humor, na vontade de viver, na vontade de não cair em rotinas, na vontade em viver os momentos com intensidade e sorrir muito. E fazer maluqueiras. E desafiar o convencional. E rir, rir, rir... Tenho muita pena de nunca mais ir partilhar isto tudo contigo mas também tenho a certeza de que se me vou reerguendo é precisamente por teres morrido. Para mim morreste e eu espero um dia encontrar-te noutra vida e recomeçarmos do zero. Prometo que te procurarei novamente. Se em 100 vidas te encontrar mais uma vez, já ficarei contente. Só espero que a vida actual não tenha sido a vez em 100. Saberás que me encontraste novamente quando vires alguém a sorrir para ti, a meter-se contigo na brincadeira, com os olhos brilhantes e uma vontade imensa de perder horas e horas a conversar contigo. Prometo que te encontrarei novamente.
Até uma próxima vida.

"Celine: Because we were young and stupid.
Jesse: Do you think we still are?
Celine: I guess when you're young, you just believe there'll be many people with whom you'll connect with. Later in life, you realize it only happens a few times.
Jesse: And you can screw it up, you know, misconnect."

in Before Sunset (2004)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mt lindo o texto :)
Nunca apagues o que escreves pois é uma parte de ti muito bonita e que faz de ti alguém tão completo. Qq mulher adoraria que alguém gostasse dela assim.
Um texto lindo lindo de um príncipe lindo tb :)

9:34 da tarde  

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