Lobotomia

Esquece que existo. Esquece tudo o que te disse. Esquece tudo o que escrevi. Esquece tudo o que fomos. Deixa-me morrer em ti. Mata-me em ti. Deixa-me partir, morrer, fugir. Deixa-me esquecer que o meu mundo girava à tua volta. Deixa-me perder as memórias de abraços e beijos que preenchiam o coração. Deixa-me morrer em ti.
Esquece que existo. Esquece que os meus sonhos se construíam no teu sorriso. Esquece que pintavas o meu mundo de alegria. Apaga-me. Esquece-me. Assassina toda e qualquer memória de momentos partilhados. Esquece as horas que pareciam voar e as conversas que não queriam acabar. Deixa-me morrer em ti.

Quero esquecer que existes. Quero matar-te em mim, esconder-te num buraco fundo na minha alma. Quero que os sentimentos morram de fome, esquecidos. Que percam a cor que lhes davas. Quero que o “nós” nunca mais seja “nós”. Quero pensar que nunca existiram momentos em que foi tão bom ser o que éramos. Morre em mim.
Quero perder-te no tempo e na distância. Não quero saber que existes, para poder não pensar em ti. Não quero mais que a tua imagem percorra a minha memória. Não quero nunca mais lembrar-me que sorrias dessa forma que me iluminava, com a inocência de uma criança… feliz. Quero perder-te o rasto. Morre em mim.

Quero que o vento leve o teu cheiro para longe. Quero que o mar lave o meu coração das marcas que deixaste. Quero que o sol queime todo e qualquer sentimento que tenha por ti. Quero que o tempo me dê finalmente asas para voar para longe e voltar a pousar… noutro lugar, noutro sorriso, noutra vida. E preencher-me, sim, preencher-me de vida e alegria. E sorrir como sorria quando te beijava. Sorrir com a felicidade de mil sentimentos bons. E sentir os pássaros cantar em mim de novo. Eu tenho tanto mais para dar do que alguma vez te dei. Nunca saberemos o que poderia ter sido de nós. Mas já pouco interessa isto tudo. Quero somente… esquecer-te.

Esquece que existo. Mata-me em ti como te quero matar em mim.