quinta-feira, junho 28, 2007

Não, não te perdoei


Nos primeiros tempos acordava a desejar que tivesses desaparecido da face da terra, que nunca mais pusesse os olhos em ti. Dava por mim a desejar que sentisses a dor que me fazias sentir. Esperava que um dia te rasgasses em sangue e sofrimento e eu pudesse estar presente para te dizer "Sofre a amargura que um dia me trouxeste". Queria ver-te cair desamparada e bater com estrondo no chão. Desejava que as lágrimas que me caiam dos olhos pudessem cair dos teus. Poderia querer que sofresses mais que eu, mas não. Queria que sofresses exactamente o mesmo, que sentisses na pele a angústia que um dia trouxeste à minha vida.

Depois o tempo passou e o desejo, de ver em ti a dor, desapareceu. Não sou de vinganças e comecei a achar que não me fazia bem ter em mim sentimentos tão maus como os que tinha. Passei a desligar-te em mim, simplesmente. Passei a ignorar que existias e soube-me tão bem. Deixaste de estar no mesmo mundo que eu e isso deu-me espaço para me restabelecer.

Agora, ignoro-te não te ignorando. Não quero saber nada da tua vida, não quero saber se existes mas se me apareceres à frente eu não deixo de te tratar educadamente como a qualquer outra pessoa. Não sei quem és e nem quero saber, certo de que a pessoa que um dia amei foi somente criação da minha mente. Tu nunca exististe a não ser em mim, que personifiquei em ti as minhas visões do que seria alguém perfeito para mim. Deixei que a minha imaginação te moldasse aos meus desejos e apaixonei-me pela minha própria criação.

Se te perdoei? Não, não perdoei. Talvez um dia, talvez nunca. Por que parece tão mal e errado o não perdoarmos a quem nos magoa? Por que é suposto eu um dia perdoar quem me magoou e desiludiu mais do que ninguém? Não, não te perdoei nem busco em mim esse perdão. Não te faço mal, não te prejudico, simplesmente não sou capaz de ignorar a ferida que abriste em mim um dia. Há buracos que se abrem demasiado fundo e eu tenho uma memória demasiado boa. Não consigo lembrar-me de ti, pensar em ti sem que te associe logo a todo o mal e angústia com que preencheste os meus dias. Atiraste-me para o poço e fechaste a tampa. Largaste-me a mão e deixaste-me cair para o abismo. E se há alguém no mundo que nunca mereceu que o fizesses, fui eu.


Não, não te perdoei. Talvez um dia, talvez nunca.

1 Comments:

Blogger Cazuza said...

Afinal tambem tens um bocado azul...

1:42 da manhã  

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