terça-feira, junho 12, 2007

Palavras que escorrem

O tempo mudou neste último ano. Os dias deixaram a escuridão a que tinham chegado e o sol foi reaparecendo aos poucos. Fui subindo por mim acima, degrau a degrau, com a força de mil eus. E hoje, apesar de não estar no topo de mim como um dia já estive, consigo ver muito mais longe do que alguma vez vi. Estou maior.

Provei a mim mesmo, uma vez mais, que por maior que seja a tempestade eu estou aqui para a enfrentar de pé e de frente. Sem fugir. Nem que para isso tenha que mudar o que me rodeia, nem que tenha que arrancar de mim pedaços crús de alma e sangrar o meu espírito. Eu sigo os caminhos, por mais buracos e obstáculos que apresentem. Nunca fui cobarde e espero nunca o ser.

Reforcei a ideia que tinha de que o respeito que os outros têm por nós se conquista nas "lutas" diárias que travamos. Somos testados e postos à prova continuamente. E se queremos ter o nosso lugar temos que o ganhar e não ter medo de o fazer. Se já antes não era de me calar, agora simplesmente nunca o faço se achar que devo intervir. As pessoas testam-nos constantemente. Em todo o lado mas em especial nos locais de trabalho. Experimentam a ver até onde podem ir, até onde podem roubar-nos o espaço que é nosso e ultrapassarem fronteiras. Se não formos nós a mostrar-lhes os seus lugares, a impôr barreiras e a fazermo-nos respeitar, ninguém o fará por nós e passaremos ao fim de pouco tempo a ser peões. Usados e abusados. Não passei nem conto passar por cima de ninguém, da mesma forma que nunca admiti que passassem por cima de mim. Felizmente nunca tive grandes problemas mas os que surgiram foram resolvidos em curto espaço de tempo, cara-a-cara, sem medo de meter o dedo na ferida e com a maior discrição possível. Sem grandes ondas. É essencial sabermos resolver os nossos problemas e envolver neles o mínimo de pessoas possível. É a forma mais eficaz de o fazer.

Conheço hoje muitas mais pessoas do que há 2 ou 3 anos atrás. Este último ano foi um boom de novas pessoas na minha vida. No entanto, as pessoas que realmente fazem parte da minha vida são agora menos. O número de conhecidos aumentou, não só pelas novas pessoas que surgiram mas também pelo afastar de pessoas que me eram próximas e que passaram para o outro lado do muro que circunda o meu "eu" mais íntimo. A maioria das pessoas que pensa conhecer-me não faz a mínima ideia de quem sou, dos meus sonhos, dos meus planos, dos meus sentimentos. A minha vida está muito mais restrita. E a porta para entrar nela só é aberta por meia-dúzia de pessoas, todas as outras ficam do lado de fora. É abismal a diferença entre os dois lados do muro.

Tenho noção de que em alguns casos fui eu quem se afastou. Mas em caso algum o fiz despropositadamente. A verdade é que eu não estou apenas por estar e se não me sinto bem nalgum lado, simplesmente deixo de ir lá. Pode-se sempre falar nas distâncias físicas, mas isso é e será sempre uma desculpa. Há pessoas mais afastadas, porém, sinto-as e fazem parte de mim como se ainda vivessem no quarto ao lado. Nalguns casos passei a tratar as pessoas somente da mesma forma que me tratavam. Se me procurassem eu procurava-as, se viessem ter comigo eu ía ter com elas. Eu já fiz dezenas de quilómetros para visitar e estar com pessoas e essas pessoas nunca o fizeram por mim. São vários os casos em que quando essas pessoas precisaram, eu peguei no carro e estive lá. Já o contrário não aconteceu. Considero-me uma pessoa justa e em alguns casos é somente equilibrar as coisas e agir com justiça. Valorizo, também, cada vez mais os actos e menos as palavras. Já não acredito quando alguém que diz ter saudades minhas nunca tenha feito qualquer esforço para as "matar". E eu não estou tão longe dessas pessoas como isso. Por que tenho sempre que ser eu a ir "matar" saudades?

Estou mais egocêntrico. Sim estou. Vivo mais em função de mim. Preocupo-me mais comigo do que preocupava. O meu ego voltou a estar no seu lugar habitual e esse sempre foi um lugar alto. Gosto de mim. Tenho-me em boa conta. Se é uma visão real ou irreal, distorcida e manipulada pelo sentimento de mim, não me interessa. Gosto de mim o suficiente para não invejar a vida de ninguém e achar que tenho uma vida melhor que a maioria das pessoas. Todos os dias dou asas à imaginação e sentido de humor. Todos os dias rio com real vontade. Quantas pessoas se podem gabar disso?

Tenho tido o ego mais polido nos últimos três meses do que no ano e tal que os precederam. Todos os dias há manifestações de carinho, amizade, amor. Em todos os dias encontro alguém que me faz sentir bem por ser eu mesmo. E são essas pessoas, que me acarinham despreocupadamente, que me procuram e fazem sentir importante que dão valor à minha vida. Não há nada que eu valorize mais do que o partilhar de um sorriso ou gargalhada. Só tenho pena de, por vezes nesses casos, sentir que recebo mais do que consigo dar, detesto ficar em dívida. Prefiro balanças equilibradas.

Estou a reaprender a fazer as pessoas sorrir. Nada me dá mais prazer que fazer alguém sorrir ou rir. Se todos os dias conseguir fazer alguém sorrir, serei eu mesmo alguém mais feliz. Ficam no meu coração momentos como aquele em que há dias alguém me ligou de um serviço de um hospital que não o meu, a rir à gargalhada. Nesse dia, a equipa que estava de turno resolveu partilhar em voz alta algo que eu tinha escrito. Um texto criado para fazer alguém especial sorrir. Nesse dia quem mais sorriu fui eu.

1 Comments:

Blogger Gui said...

Um beijo muuuiiiito grande...

2:54 da tarde  

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