quinta-feira, janeiro 04, 2007

That there... That's not me...


Há algum tempo que ando completamente desinspirado. Não é que não tenha sentimentos. Mas é como se tivesse uma parede invisível entre mim e eles, que me impede de os tocar. Como se sentisse mas não conseguisse exprimir-me. As palavras não saem fluídas como anteriormente. Estou mais frio. Não sinto intensamente há algum tempo. Não choro há mais de 3 meses. Não tenho vontade de escrever. Ou melhor, tenho e não consigo. Não consigo ir buscar a mim os sentimentos. Como se olhasse para tudo o que vou escrevendo nos últimos tempos e achasse que nada daquilo é meu. Estive 2 semanas sem insónias, o que é esquisito em mim. O que é certo é que se abriu um fosso entre mim e os meus sentimentos desde aí.

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Estive 5 anos sem escrever e sinto que vou retornar a novo período de seca. Não é que isso seja mau, pelo contrário! É muito bom sinal. Só sinto necessidade de escrever quando me sinto em baixo. Quando estou bem não há essa necessidade. Mas agora é estranho. Pois apesar de sentir que não estou totalmente bem, não sinto em mim qualquer tipo de necessidade de escrever. E o que escrevo é muito vazio de sentimento. Sinto-me um bocado robot. Ainda vão havendo períodos complicados de vez em quando mas não tão intensos. Como se das feridas já pouco sangue saísse.

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Tenho agora dificuldade em ter conversas longas. Parece sempre que não tenho nada para dizer. Como se estivesse vazio. Como se não tivesse o que contar. Dou por mim a procurar aquelas músicas que me faziam sentir, mesmo que me dessem vontade de chorar. E ouço-as. Ouço-as e não sinto o mesmo. Parecem-me estéreis. Só fazem crescer a fome de sentir. Sentir, sentir, sentir! Sentir com todas as células do meu corpo. Sentir intensamente. Como se eu fosse o sentimento. Sinto falta desse sentir. De Amar loucamente. De me entregar aos sentimentos como se não houvesse mais nada. Como se só sentir fizesse sentido.
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Procuro por mim nos outros. Nos olhares, nas conversas, nos toques, nos abraços. Procuro-me nos espaços que outrora foram preenchidos por lembranças de sentimentos. Procuro-me nas palavras que escrevi. Procuro-me nas memórias que me parecem tão turvas. Sinto uma estranha amnésia em relação a tudo quanto foi sentimento na minha vida. Como se todas as pessoas que Amei tivessem desaparecido, fossem agora caras e nomes desprovidos de sentido. Vazios.
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Procuro-me em músicas, em filmes, em vídeos, em textos. E não me encontro. Perco horas a ver desenhos animados do meu tempo de infância, a ouvir músicas de quando era pequeno, a visitar sites de séries antigas. Eu recordo mas não sinto.
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Procuro as pessoas que conheço há anos. Passo tempo com elas. Tudo me é familiar. Tudo me é habitual. Mas eu não me sinto ali de verdade. Está tudo igual. O mundo não mudou. Mas eu não sei de mim. Passo horas com amigos, divirto-me, rio muito, farto-me de brincar. Mas no fim sinto um vazio de mim. Como se eu faltasse em mim.

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E as pessoas vêm e dizem que adoram ver-me assim bem-disposto. E convidam-me para sair. E convidam-me para lanchar. E convidam-me para jantar. E convidam-me para ir ao cinema. E convidam-me para ir às compras. E convidam-me para ir ao café. E tudo isso me alegra e faz feliz mas eu sinto um vazio em mim. Mas por que me queixo? Tenho uma vida melhor que a maioria das pessoas. Tenho um emprego. Estou financeiramente estável. Tenho dezenas de amigos. Tenho quem goste de mim. Todos os dias há quem me elogie, quem se lembre de mim, quem me procure, quem me diga "gosto muito de ti". Tenho confiança plena nas minhas capacidades. O meu nível de resultados, seja no que for, é geralmente muito bom. Sou capaz de fazer alguém sorrir. Sou capaz de surpreender quem eu quiser. Sou capaz de tanta coisa... Porquê este vazio de mim?
Tenho tudo! O que me falta?