sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Erase and Rewind


Há alturas em que me apetece "limpar" as pessoas que compõem a minha vida. A cada dia que passa há fossos que aumentam a um ritmo alucinante. Faz-me uma confusão imensa haver pessoas com quem conseguia passar horas a conversar e neste momento não haver tema de conversa para além de 2 ou 3 minutos. Faz-me impressão não ter vontade nenhuma de estar com pessoas que me foram tão importantes e que agora são somente um monte de recordações, pedaços de um Passado, nada mais que isso. Como se tivessem morrido e fossem agora apenas sombras. Como se já não as conhecesse. Como se fizessem parte da minha vida não o fazendo.

Sinto-me mal por haver pessoas que conheço há anos e anos, com quem passei milhares de horas e neste momento não haver nada mais para dizer do que "olá, como estás?". E "está tudo bem". E pronto, acabou ali o assunto, acabou ali a conversa. Já não há ligação. Já não há assuntos em comum. Já não há vontade de conhecer a outra. Esgotou-se. Acabou. Somos pessoas que se conheceram e não são capazes de assumir que já não se conhecem. Somos somente conhecidos. Tudo o resto é memória, tudo o resto é recordação. Mais ou menos importante mas somente isso, recordação. E mesmo as recordações vão devanecendo, se vão esbatendo no passar dos dias.

Quando me ponho a reflectir no quão conheço as pessoas que fazem parte da minha vida, acabo por me aperceber de que há algumas que simplesmente deixei de conhecer. Deixei de saber como são os seus dias, que coisas as atormentam ou fazem felizes. Deixei de saber os seus planos de futuro, os seus sonhos, os seus desejos. E o pior é que as considero pessoas amigas. Mas como podem ser amigos se não os conheço? Como posso atribuir esse termo a pessoas com quem falo duas ou três vezes por ano? Como posso considerar amigas pessoas que não fazem a mínima ideia de como estou, do que faço, do que existe na minha vida?

E quando há coisas que ficaram por dizer, os fossos mais rapidamente se instalam. E vem o desconforto. Vem um imenso desconforto sempre que se tenta fazer de conta de que está tudo bem, como se as feridas nunca tivessem existido. Conversas da treta, de circunstância. Tenta-se inventar assunto mas só existe desconforto. Falta de vontade de continuar a conversa que no fundo é somente um trocar de palavras sem interesse. Tenta-se brincar mas tudo parece forçado, porque as feridas estão lá. As palavras que ficaram por dizer são fantasmas que criam muros e barreiras. E o fosso continuará a alastrar até que se evite sequer dizer "olá". Porque não haverá nada mais para dizer após o "olá, como estás?". E ninguém gosta desse desconforto, dessa faca que nos corta em desilusão. Preferimos evitar sequer falar. E o fosso alastra. E as pessoas deixam de ter qualquer tipo de ligação que não seja a memória de momentos passados.

Apetece-me apagar da minha vida muita gente. Porque me dói saber que há pessoas que estiveram tão perto e neste momento já não significam nada. São nomes, são endereços de email e msn, são fotos, são memórias. Deixaram de ser pessoas. São cartas que já não fazem qualquer sentido. São avisos de MSN de pessoas que por mais que fiquem online já não nos dizem olá. Estão lá e não estão. Estamos todos no mesmo sítio (internet) e completamente afastados. Ignorando-nos uns aos outros. E já ninguém toma iniciativa. E se tomamos, ou não há resposta, ou fala-se durante 2 ou 3 minutos, ou recebe-se um "agora estou um cadito ocupado".
A verdade é que cada vez tenho uma maior vontade em apagar esses endereços todos e deixar os poucos que ainda fazem sentido de existir. Para quê ter o endereço de pessoas com quem não falo? Para que serve? Para me massacrar? Para me lembrar de que estão ali pessoas que fizeram parte da minha vida mas que neste momento já não fazem? Apetecia-me que a internet deixasse de existir e pudesse acreditar inocentemente de que é a distância física que nos leva a isto. Mas não é. A distância física é o menos, no meio disto tudo.

Apetece-me começar a vida de novo. Noutro lugar. Com pessoas novas. Desta vida levava apenas algumas pessoas, poucas...

3 Comments:

Blogger Gui said...

Bolas! Por vezes és cruel!... Ao ler o teu post tive medo de estar incluida em todas essas frases revoltadas...
É possível, eu sou uma das pessoas que está online durante o dia todo e não está a conversar contigo... nem com mais ninguém...
E já não falo contigo há tanto tempo! E tenho tantas coisas para te contar! E são tantas coisas que não quero dizer por mail ou por messenger...
Tenho saudades de ti! Mas fiquei triste...

3:09 da tarde  
Blogger EmanuelCB said...

Isto não se dirige a ninguém em especial, foi somente um desabafo. E se calhar uma autocrítica pois eu mesmo vejo as pessoas online e não vou falar com elas. Porque simplesmente... já não há "vontade" de falar, já não há assunto. No momento em que escrevi isto tinha 20 contactos online e não estava a falar com ninguém :S
Jinhos**

4:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não acho que o texto esteja cruel.Diz muitas coisas que sentimos mas não conseguimos ou não temos coragem de exprimir.Também me acontece e realmente faz sentido perguntar para que servem os contactos das pessoas com quem não falamos?Cruel é vermo-nos uns aos outros online e ignorarmo-nos.Mas quem não o faz?

3:45 da tarde  

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