A fome
Há dias tive um pesadelo de horror especialmente belo. Chovia sangue e as gentes dançavam na rua, bebendo-o e uivando de prazer. Nuas, mordiam-se e consumiam-se, rasgando-se em carne viva. Numa orgia de loucura e alucinação. E o céu sangrava sem cessar. As ruas eram o palco desta cena de decadência demencial.
Depois acordei. E contemplei o corpo nu da tua amiga. Dormia serena, como se fosse normal estar ali. Ainda tinha as marcas dos meus dentes. Tu continuavas abraçada a mim, completamente alheada da vida. Noutro mundo que não este.
Fiquei uns instantes a observar.
Então compreendi. Apercebi-me de como trouxeste para a minha vida a luxúria. De como em mim se criou esta enorme sede lasciva concomitante a esta fome de prazer predatório. E vi, então, que em mim se perderam os sentimentos, devorados pelo objectivo único que é saciarmo-nos. Vivemos para matar a fome. Mas a fome perdura. Volta sempre, não morre. Não há corpos que a fartem. É abismal.
Banalizámos a luxúria nesta procura incessante de algo mais que nos mate a fome. Construímos muros intransponíveis à volta da moral. Esquecemos o Amor. Somos escravos do prazer. Dependentes da lascívia.
1 Comments:
Ui ui...
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