domingo, julho 02, 2006

Letters

Carta 1 - Angústia fodida. Às vezes sinto que te odeio, outras que te desprezo, por vezes acho que te amo mas no fundo fico sempre com dúvidas em até que ponto gosto de ti. Cada vez estou mais frio e a dar menos importância às coisas que a ti dizem respeito. Cada vez são mais frequentes os momentos em que me apetece dizer-te "vai-te foder" ou "vai gozar com o caralho". Cada vez dou menos valor ao que me dás, por mais sincero que seja o que me dás. Cada vez sinto mais que não mereces que desperdice os meus sentimentos, o meu tempo, as minhas palavras, os meus sonhos e os meus pensamentos contigo. Como se sentisse que não estás à altura. Que nunca fizeste realmente por merecer que te tratasse de forma especial. Como se a cada dia que passa perdesses a magia, perdesses o encanto e a imagem que tenho de ti se fosse degradando. Como se me desiludisses todos os dias. Cada vez me imagino menos contigo, como se começasse a ver em ti alguém que não faz sentido ao meu lado, alguém que não serve, alguém que já não encaixa na minha vida, alguém que não merece ocupar esse lugar especial. Tens uma capacidade incrível de me desiludir sempre que eu acho que tudo está a melhorar. Como se te desligasses de nós sempre que o "nós" faz mais sentido. Se antes me sentia um estúpido ao dar-te algo especial agora sinto-me um estúpido ao dar-te o que quer que seja de mim. Eu mereço melhor.

Carta 2 - Hoje pensei em ti de maneira diferente. Foi esquisito. Como que o despontar de algo em mim. Um interesse em conhecer mais a pessoa que és. Tenho gostado do que vi até agora mas está tudo muito fresco. Há muita coisa em ti que parece certa mas depois falta qualquer coisa. O "click" que faz a diferença. É como se existisse mas muito escondido. Como se esperasse que a porta abrisse. Mas e se nunca vier esse "click"? Só o tempo nos dirá. De qualquer forma quero descobrir. Quero descobrir o que há em ti e de que forma isso pode alterar o que há em mim. Quero descobrir-te e que me descubras também.

Carta 3 - Sinto-me preso algures em mim. Como se não me preenchesse. Como se eu fosse feito de vazio à excepção do pequeno lugar em mim onde me encontro enclausurado. Sinto-me um pedaço de mim. Sem liberdade de ser quem sou. Sinto-me desorientado e à deriva, sem saber que caminho percorrer. Como se nenhum me interessasse o suficiente. Como se precisasse de tirar umas férias longas e parar para reflectir sobre o que quero para a minha vida em todos os termos, de profissionais a sentimentais.

Carta 4 - Desculpa por todos os momentos em que te magoei. Desculpa se desisti se calhar sem me esforçar o suficiente. Desculpa se atirei ao lixo tanto tempo. Desculpa por tudo o que disse. Desculpa se, indirectamente ou não, contribuí para que te tornasses numa pessoa diferente. Desculpa se não te valorizei o suficiente. Eu compreendo o muro que criaste entre nós. Eu compreendo a distância. É esquisita a forma como, por mais que tentemos disfarçar, nos tornámos estranhos um ao outro. Como se eu fosse um corpo estranho na tua vida e tu na minha. As próprias recordações já me parecem estranhas, como se fossem recordações de uma vida que não a minha. Como se me lembrasse de tanto e ao mesmo tempo me esquecesse de tudo! Desejo-te o melhor. Tantas e tantas vezes me pergunto "e se tivesse sido tudo diferente?". Eu acredito em ti. Eu acredito que a pessoa que conheci vai voltar um dia. Sinceramente, acho que segues um caminho que não te vai levar a um sítio bom. Tenho um grande "feeling" de que é uma questão de tempo até tudo explodir novamente. Mas não te digo nada. Deixo-te seguir os caminhos sem interferir, já não tenho o direito nem o espaço de dar a minha opinião em relação à tua vida.

Carta 5 - Se há alguém que merecia tudo o que há em mim és tu. Por todas as horas a aturar-me. Por todos os convites para sair. Por todo o carinho. Por toda a motivação e força que me quiseste transmitir. Por toda a vontade de me integrar na tua vida. Por todo o esforço em me colocar no caminho certo. Obrigado. Sinto-me muito mal quando te ignoro apenas porque não me apetece falar contigo. Sinto-me mal sempre que rejeito os teus convites. Nunca te iludi e tu sabes disso. Mas sinto que não mereço tudo o que me dás, por mais que digas que o fazes simplesmente porque gostas de mim. Detesto receber sem dar e se me afasto, às vezes, é para não me sentir mal comigo mesmo por achar que não consigo dar-te um décimo do que me dás. Obrigado por tudo e desculpa-me.

Carta 6 - Ainda penso em ti muitas vezes. O "nosso" tempo já passou há muito e nem foi nada de especial mas há qualquer coisa que ficou. Sinceramente, acho que é algo sexual. Atracção. Desejo. Química que nunca chegou a esgotar-se. Vontade de te sugar o pescoço e as orelhas. De te tocar. De sentir o teu corpo nas minhas mãos. De sentir os teus lábios a percorrerem-me o corpo. De perder a cabeça e agir de forma completamente animal. De repetir momentos de loucura. E o que me aflige mais é que não vejo absolutamente mais nada em ti, tirando a nossa amizade. Nunca conseguiria viver ao teu lado. És somente um fogo que nunca se apagou completamente.

Carta 7 - Saber que existes é aperceber-me de como os sentimentos mudam e podem morrer por completo. Amei-te loucamente. Como se fosses a única mulher do mundo. Como se fosses perfeita. Nunca te beijei. Nunca partilhámos momentos significativos juntos. Destruiste-te e eu fugi antes que me levasses contigo. Dizias que eu era a única pessoa no mundo que te compreendia. Dizias que havia coisas que só conseguias falar comigo. Dizias que era a pessoa que mais admiravas no mundo. Dizias que pensavas constantemente em mim. E eu duvidava sempre do que dizias. Agora percebo que me protegeste. Me mandaste para longe para que não afundasse contigo. Impediste-me de te tentar ajudar e quiseste destruir-te sozinha, sem me levar também. Agora apercebo-me que afinal gostavas realmente de mim. Mais até do que o Amor que eu dizia sentir por ti. Com a tua morte impediste a minha. Devo-te tanto, tanto, tanto...